Por Márcio José A. da Silva
Alteridade é o tema deste nosso XXIV Encontro Nacional de Filosofia Clínica: que modo melhor de exercitar esta ida ao mundo do outro através de uma visita aos escritos de nossos convidados? Assim como em uma interseção clínica, não teremos acesso ao todo, mas a uma parte do que cada autor pensa sobre o tema.
A ANFIC pensando em uma forma de que possamos visitar, revisitar, pensar sobre cada momento do encontro apresenta esta Revista, cujo conteúdo é a fala de cada participante.
O professor Cyril Aslanov nos fala em “Babelismo e barbaria: o fator linguístico na apreensão do outro”, sobre a questão da língua como possibilidade de compreensão do outro, dos embates, resistências e aceite que envolvem um outro com uma outra língua distinta da minha. Em “Homoglossia e heteroglossia em situações de beligerância: da Guerra de Tróia até o conflito na Ucrânia”, destaca que falar a mesma língua não é garantia de paz. Desde a época dos troianos e aqueus até os dias atuais com os russos e ucranianos, povos que possuem a mesma língua não foi impeditivo para que não guerreassem. Mas há um outro movimento curioso, o do aprender a língua do outro, que não é a sua.
O professor Beto Colombo nos apresenta “Aspectos sistêmicos em Filosofia Clínica: quem é esse que se aproxima? que clínica é essa que o acolhe?”, através do exemplo de Valjean, personagem de Os Miseráveis de Victor Hugo, traça uma leitura social e o papel que cabe ao filósofo clínico diante do outro.
A “Ética da hospitalidade no cuidado terapêutico do filósofo clínico” é o que nos oferece à leitura o professor Cadu Nascimento. Em seu texto destaca que a singularidade está atrelada à categoria filosófica da alteridade, o que é o fundamento de uma ética da hospitalidade. Assim, da mesma maneira que o filósofo clínico vai ao mundo do partilhante na qualidade de hóspede, o terapeuta também vivencia a hospitalidade do outro em sua própria subjetividade.
O filósofo clínico Claudio Fernandes traz em “Tempo do outro e do outro do outro na prática clínica” questões fundamentais como: qual é o tempo de duração de uma clínica? quanto tempo dura uma consulta? Através de relatos de atendimentos iremos descobrir a resposta, ou não.
A entrevista com o professor Lúcio Packter gira em torno da questão da alteridade em Filosofia Clínica e indica que nada está definido neste movimento, afinal “Ir ao mundo do outro é às vezes um convite, às vezes um desafio”.
O professor Evaldo Antonio Kuiava traça um minucioso caminho filosófico ao descrever a “Alteridade em Levinas”; cada passo realizado pelo filósofo lituano para a conceituação do significado de alteridade está presente neste texto.
Em “Aspectos sistêmicos na atualidade: quem é esse que se aproxima? que clínica é essa que o acolhe?” o professor Jamil Stefanuto questiona dois pilares da clínica filosófica. O partilhante, quem é? E: que terapia é essa que o recebe?
A filósofa clínica Jandira Bordin, em “A terapia na primeira infância – relatos de uma filósofa clínica no atendimento a crianças”, traz-nos um depoimento de seus atendimentos com menores, e como a recente pandemia de COVID trouxe esses novos tipos de partilhantes à clínica.
No texto “A força espiritual da palavra no diálogo da Filosofia Clínica, o professor Will Goya inicia sua caminhada a partir do termo Pathos (Paixão – entre outras interpretações), para um Pathos espiritual ou amoroso, sem amarrações religiosas, mas na essência da Filosofia Clínica, um resgate ao “amor à sabedoria” através da relação estabelecida entre o Filosofo Clínico e o Partilhante.
Estes são nossos colegas que abrem seus mundos às suas visitações. Aproveitem.
Conselho Editorial